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Sem mais Delongas

Ah! Como me agrada sentir cair nos poros

A sutil e gélida maciez do orvalho noturno!
Faz-me ele lembrar, tantas vezes, essa suavidade que sinto em ti, todos os dias.
Que amo.
O quê!? Diz-me que não me atrevo a falar-te em cara do grande amor, calado, irresistível martírio,
Suave delírio,
Que é amar-te?
Pois saibas: Não mentes.
Com que esplêndido e sincero desejo hei de amar-te, se ao topar-me com tua fronte, sinto cair de mim, cobarde, a coragem? Que amor hei de te dar, se só o pálido sorriso já estremece-me as estruturas do corpo?
Se bem que nada há nisso de tão exacerbado. Não esqueçamos da lua que, mesmo disfarçadamente ama, cálida, o sol.
Ao passar de cada nuvem, cada qual, sucessivamente, reclamo, proclamo, sobre sua égide nua e macia:
Que entendes meu desespero para ouvir-te
O canto suave
Ao som de uma clave,
E com ânsia beijar
Dos lábios, as traves.
E há esse encábulo meu, que tece
A teia que minhas palavras prende.
Impede-me de te dizer ...sonetos.
Mas essa plácida mão, que desenha tais palavras,
Dá à ti o fulgor, a pele crua.
Avante! Pegue dela!
Essa tênue vida, que é tua.

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Jades falantes

Não sei por que ainda me pego no flagra lhe observando. Muito menos por que não se rompe esse elo invisível. Seria mais simples. Mas depusemos de seus postos as analogias... Tudo é puramente individual. Pessoal. Sei que, mesmo que cante liberdade, continua preso, continuo também.

Não sei. Talvez sejam os olhos. É, deve ser esse espelho que carrega na fronte que lhe entrega. Pois mesmo detida por sua muralha, enxergo-lhe a alma sempre que me olha com, não outro, aquele olhar.
São eles, sim, sua perdição. Pois mesmo quando cala, em um silêncio ensurdecedor, eles me gritam em agonia, descrentes e imprecisos do que seja o orgulho e a arrogância.
E por mais que não perceba, que não queira, o verde dessa jade que tem no lugar da íris diz o bastante. Embora, dizer não baste.
Pois se as cortinas se fecham e o brilho desses astros se perde...
De que adianta?

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É uma Dança

Meus pés movem-se em passos contínuos.

É um dia de sol, campo, reflexo. Grama. Reflexo. Flores, adivinhe, e reflexo.
O vento é quem dita o ritmo. O farfalhar das folhas, o compasso. E meu coração, a batida minuciosa que rege os outros tons.
Os braços que me envolvem riscam pequenas fagulhas no meu peito. Ascendem. Assim como meus pés, esses outros dois me seguem igualmente. Sintonia. Sincronia.
E os olhos são campos magnéticos, opostos e atrativos. Fixam nos meus. Fixo-os nos dele. Nossos movimentos seguem o vento, ele nos segue. Assim, somos um, e a natureza nos acompanha pela simplicidade dessa totalidade.
Enquanto os pés dançarem e elevarem-se no ritmo das folhas, também seguirão o ritmo dos anjos.
Estamos no céu.

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Papel Clichê

A vida tem dessas peripécias.

Todos os dias morreis sem viver. Morreis pouco a pouco. Afogai-vos em amargura e melancolia.
Decorre-se o tempo e vos vejo, justamente, cortar o fio da esperança. Por quanto viveis? O que vos faz ver? Seriam as folhas das árvores, tragável, viciante natureza? Ou vossos suspiros são por papel-dinheiro?
Será que esta "vida" que comprais, vale esta Morte que viveis? Acordai desse sono profundo, ignorância, que persegue os homens! Tendes muitos trens a pegar sem rumo.
Privilégio dos homens e mulheres, abdicar do comum, tendes. Deveis amar, não o verde papel. Só vivereis quando amardes o homem sem sociedade.

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Pontes Indestrutíveis?

Lembro de ser jovem, e mesmo ao longo de meus poucos anos, ter construído umas poucas pontes. Cada qual com seu material. Cada qual com seu tamanho e importância.

Mas lembro-me, principalmente, de duas pontes. Uma chamei de Amor, e a outra de Paixão. Foram pontes distintas, mas semelhantes em diferentes aspectos. Cada uma me levou por um caminho diferente, mas, seguindo o princípio da conservação, acabei sem nenhum resultado diferente. Todas as trajetórias me levaram a um mesmo lugar.
Amor, lembro que levei mais tempo em sua construção. Sei que a fiz devagar, concretando seus espaços dia após dia, vendo-a progredir, indiferente ao sol e á chuva. Paixão chamei, mas depois de um tempo não me respondeu mais.
De minhas memórias resgato esta que vos digo: visitava-as, Amor e Paixão, todos os dias. Amor era forte e corpulenta, muito mais concreta. Paixão era mais abstrata, mas seu fluxo era muito mais intenso.
Tempo, fator absoluto. Depois de todo o potencial, as pontes passaram por suas tempestades. Seus dias de sol e chuva, antíteses que vieram a enfraquecê-las. Assisti seu declínio ainda em vida, embora pense que assemelhe-se mais á morte.
Amor e Paixão ruíram, mas de seus escombros criei nova ponte, que chamei de Ilusão. Ilusão, resultado dessa mistura de sentimentos.
Porém, ilusão fora iluminada por nova ideia. Uma reforma. Hoje está nova, tanto que lhe foi atribuído um novo nome:
Esperança.
Essa, eu apelidei Indestrutível.

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Era nostálgica

Quem puder bradar aos quatro ventos seu amor, que seja afortunado, pois não há alegria maior do que não ter pretexto para sentir.

A manhã clareia a janela, assim como minha alma. A luz, consolo de um espírito perdido dentro da vestimenta que é o corpo. E o frio? É aquele que congela, duro como certas palavras que já me atiraras, com ou sem intenção.
Sei que o frio machuca, mas a neve é linda de se ver. Ver estes flocos, alvos, mínimos, a marcar de branco as copas das árvores. Mesmo que as deixem despedaçadas, as marcas deixam a nostalgia. Deixa que lembrem de sua imaculada perfeição.
Assim como minhas lembranças... e nostalgia.
Machucam por fazerem falta, e quando fazem... machucam. Mesmo, no entanto, assim como eu, a árvore não reage á neve. A ama.
Mas acho que sempre quis estar perdida... neste núcleo destrutivo, amor-revés. E do mel da tua boca extrair a essência que me move, elixir da vida.
Talvez por isso, nossos olhos se procurem, teimosos. Embora se evitem, se perdem um no outro. Depois se escondem, orgulhosos, impedindo o coração de enxergar através desse nosso viciado olhar. Mas assim como o sol faz brilhar os olhos, a noite chega e traz a escuridão, fazendo com que as sombras pesem nas pálpebras. O coração fica, então, no escuro.
E quando o dia virá? A consciência se pergunta.
Mas só se sabe que ele chegará, um dia.

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Um certo ombro amigo - Parte III - David

Passaram-se vários minutos desde que eu começara a usar o ombro de Ralph como apoio para o meu pranto. Não devia estar me sentindo tão confortável, já que seus músculos não eram tão macios, mas firmes e rígidos. Porém, talvez o alívio que eu sentia com seu abraço fosse mais psicológico do que físico. Talvez um conjunto dos dois.

Percebi que até então estivera tão imerso em minha própria dor, que não houvera reparado na intensidade das emoções do Ralph que estava ali comigo. Logo vi que não estava sozinho em meu sofrimento. As lágrimas discretas dele escapavam, teimosas, pelo rosto. As minhas eu já secara. Agora apenas observava as dele, em silêncio. Um silêncio que eu mesmo quebrei com minha voz preocupada.
- Ralph? O que houve, você está bem?
E com um controle incrível que tinha sobre si mesmo, ele despiu-se de qualquer energia ruim quase imediatamente.
- Sim, estou bem. E você?
- Melhor.
E não estava mentindo. Realmente o ombro amigo de Ralph tinha sido consideravelmente reconfortante. Logo que me recompus, tirei as mãos de meu rosto, onde antes estavam contendo o choro, e as deixei penderem, sem objetivo. Estava me sentindo um idiota.
- Desculpe, amigo... você deve ter os seus problemas também, e a única coisa que eu consigo fazer é me preocupar com os meus próprios.
Ele respondeu, então, indignado:
- Não David! Jamais pense assim.
- Mas sempre foi assim. Eu sempre fui o bebê chorão e você sempre ficou do meu lado, me protegendo. E o que foi que eu fiz por você?
- Isso que você está dizendo é uma loucura, Dave.
- Verdade? Então me diga algo que eu tenha feito de bom, além de compensar todas as minhas frustrações jogando-as em cima de você. É um modo meio estranho de agradecer.
Sua expressão oscilava entre a tristeza e a agonia.
- Ah, David... se você soubesse...
Seu olhar estava perdido atrás da franja, mas isto não impedia que seu desespero ficasse visível.
Minha mente deu um estalo.
- Ralph... é sério, você está bem? Por favor... se você estiver passando por algum problema, me diga. Deixe-me te ajudar com o que quer que for, pra que eu pelo menos possa uma vez na minha vida fazer a minha parte e te agradecer de alguma forma. Ver se pelo menos eu deixo de ser tão egoís...
Minha frase foi cortada pela coisa mais inesperada que poderia ter acontecido.
Em questão de segundos, Ralph saltou de seu assento, e tomou meu rosto nas mãos. Mas não foi isso que me surpreendeu. O que me deixou absolutamente perplexo, foi ter a sensação de estar sentindo a boca de Ralph moldar-se na minha.
Não consegui ter reação. Tentei fixar em minha mente que existia uma grande probabilidade daquilo ser um engano, mas naquele momento não conseguia sequer pensar direito. Minha expressão de espanto e incredulidade só serviam para mostrar o quanto eu não estava entendendo nada.
O que estava acontecendo!?
Afastei-o de mim, sem alarme, e o observei, ainda perplexo.
- O que foi isso, Ralph?
Suas palavras saíram num rompante, e cada uma delas servia como um tapa na minha cara.
- É isso que eu sou, David! Se quer saber o que me deu em troca, eu digo. Foi com você que eu aprendi o que é amar. Deus, eu devo estar ridículo falando isso... Você vai me evitar, não vai mais manter grande contato comigo, e talvez até nem fale mais de mim na frente das pessoas. Mas mesmo que eu te perca, Dave, não posso morrer sem antes dizer que amo você. Mais do que como meu melhor amigo. Como eu desejei dizer que você não precisava mais sofrer, que podia ser feliz com alguém... Comigo. Faz anos que eu luto contra esse sentimento, mas hoje eu cheguei ao meu limite.
Eu não sabia o que dizer.
Ralph tentou levantar e sair correndo, talvez receoso de minha reação, mas a carga emocional excessiva acabou por causar-lhe uma forte vertigem, e eu o vi cambalear pela sala, antes de perder as forças e tombar.
Reprimi qualquer pensamento que me impedisse de ir ajudá-lo. Saltei do sofá e sem demora tinha-o nos braços e carregava-o até o quarto de hóspedes, onde podia deitá-lo para que pudesse repousar. Deitei-o devagar. Lembrei que ainda tinha um calmante em cima da geladeira e não demorei a levar até ele. Levantei sua cabeça com suavidade e o ajudei a tomar o remédio. Seus sentidos já se recuperavam.
Eu o observava, ainda confuso. O que eu havia feito? Continuava excluindo meus pensamentos insanos e auxiliava-o. Eu lhe devia isso. Ralph... quando eu iria imaginar uma coisa dessas?
Antes de cair no sono que o calmante proporcionava, senti que Ralph, ainda meio zonzo, afagava meu rosto. A esperança em seu olhar tinha mais peso do que a minha vida. Agora eu entendia qual era aquele sentimento que não conseguira identificar anteriormente.
Aproximou meu rosto do seu mais uma vez, e por algum motivo que eu mesmo desconheço, deixei que realizasse seu desejo. Não o reprimi.
Vi seu corpo relaxar vagarosamente.
Será que seria mesmo tão ruim?

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Oblívio

Ó, coração... por que vens ao som da marcha fúnebre?

Morreu? Sim, mas quem morreu? Ah, imagino que seja vosso amigo, o amor. Mas o que se passou com teu inquilino, grande abrigador de sentimentos? Ah, já sei! Amor, coitado, morreu de solidão. Creio.
Sim, excelentíssimo baú emotivo. O amor tem dessas peripécias... causa-te estragos. Depois de abrigado, destrói-vos. Faz ruir tua verdade e calor! Parece político, o tal. Devo-lhe algumas palavras.
Por que morreis, inútil? Foi feito para que vivesses junto aos vossos irmãos, paixão e carinho. Mas sempre tens de morrer antes do clímax, não é? Não percebes o estrago que faz! Antes ficasse morto, mas não... Sempre arrumas um jeito de aparecer, como o hálito de uma maldição. Mas deixe estar... deixe. Quem sabe um dia vais renascer vivo e forte, e trarás coisas boas a teus semelhantes, os sentimentos.
E pagarás os danos com juros, disse o coração. Filho maldito, tens a herança de teus pais, Amizade e Respeito. Da próxima vez, escuta-lhe os conselhos, pois se voltares a andar por aí - e vais andar - a causar danos demais em cada quarto novo que habitar, logo não vos aceitarão, e será substituído pela Ambição.
Claro, não te esqueças: Tens de cuidar de teu hospedeiro. Amor, vosso sangue, irmão, cuides melhor dos quartos que habita.
Antes que todas as portas se fechem em vossa fuça.

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Anjo

Estava quase na hora. O despertador quebrado jazia na cabeceira da cama. Quer saber como eu sabia o horário? Bem, eu sempre contei os segundos. Em meu quarto só ficaram os móveis velhos, e aquela janela sem vidro, pela qual sempre gostei de olhar as estrelas.

Para onde eu ia, não precisaria levar as roupas velhas em meu armário, e nenhuma das lembranças que guardava nele. Exceto uma. Havia uma coisa apenas que eu levaria comigo. Uma lembrança de momentos mágicos... que eu lamentava ter de deixar para trás, mas não tinha escolha.
- Me perdoe, Angeline... me perdoe.
Levantei. Já havia esperado tempo demais... O mundo ansiava para que eu me apressasse, almejando a hora em que eu o deixaria para sempre.
Por mais que pareça meio melodramático, sempre pensei em morrer no alto de uma colina, olhando o céu. Como se, estando mais perto fosse mais fácil alcançá-lo. Sorte minha morrer cumprindo este desejo. Azar o meu ter certeza de que não chegaria ao firmamento antes de cruzar o purgatório.
Fiz questão de deixar uma carta na caixa de correio de Angeline, uma carta ardorosa de amor. Falei tudo o que sentia por ela, coisas que eu nunca disse, e que ela sempre mereceu ouvir. Ela já sabia o que eu estava prestes a fazer, e apesar de fingir-se de forte, eu sabia que em seu interior ela sofria. Só que eu não tinha escolha... e ela ficaria muito melhor sem mim. Todos ficariam.
A colina a qual cheguei, eu sabia que seria a escolhida na primeira vez que a vi. Assim como Angeline. Em seu topo, estendia-se desinibida pelo solo, uma procissão de flores, de várias tonalidades. Pena fosse noite... Se fosse dia eu poderia admirá-las com a dignidade que mereciam. Olhando para além daquele cume, exibiam-se as belezas de minha cidade... com toda a sua constelação de luzes coloridas... Pessoas andando, passeando com suas famílias, seus cachorros... com sua felicidade. Essas alegrias já não faziam mais parte da minha vida. Eu perdera o direito a elas. Todas tinham algo em comum. Um propósito.
Eu também... mas não tinha o direito de obtê-lo.
E foi deitado em meio ás flores que esvaziei o frasco que carregava no bolso, derramando seu conteúdo na boca e sentindo-o descer pela garganta. Não demorou muito para que a consciência começasse a me faltar, fazendo com que eu me despedisse do mundo aos poucos.
- Eu te amo, Angeline... me perdoe.
Então veio o escuro. O vazio. O nada completo.


Cheguei a pensar que flutuaria naquela escuridão eternamente, mas após algum tempo, não sei dizer se foram segundos, dias ou anos, acordei em um lugar que não sabia definir nem como céu nem como inferno. Muito escuro e silencioso para o primeiro. Muito frio e úmido para o segundo.
Purgatório.
Solidão. Este sentimento sufocava-me naquele momento... e suas dimensões eram tão largas que me faziam pensar que viravam uma dor física. Não sei se o tempo corria do modo como eu havia aprendido na Terra, mas posso dizer que passei dias naquele lugar, andando naqueles corredores úmidos e carcomidos pelo mofo, em busca de alguma coisa que eu não sabia o que era. Não achava a luz, nem o fogo.
Cansado e desesperado eu chorava, sabendo que não era isso que eu havia imaginado. Aninhei-me no chão em posição fetal e em cima de uma poça d'água que havia ali. Nem me importei, pois sabia que aquela poça era das minhas próprias lágrimas.
Foi algum tempo depois, talvez dois dias, que meus olhos captaram uma mudança no ambiente. Algo se movimentava entre os corredores. A princípio pensei que fosse o demônio que cansou de me esperar e viera buscar-me.
Só que a sombra transformou-se em luz assim que entrou em meu campo de visão, e queimou meus olhos frágeis por um momento, tão acostumado estava á penumbra.
Acreditei que tinha perdido a razão, pois imaginei que aquela luz era Angeline, com seus cabelos negros e seus olhos castanhos, vindo até mim. Só me dei conta de que aquilo era real, ao vê-la mais de perto.
Primeiro veio o espanto, depois o amor... Depois o pânico.
O que ela estava fazendo aqui!?
Levantou-me e me abraçou com ternura, enquanto só o que eu conseguia fazer era chorar espantado e aterrorizado.
- Ange, o que está fazendo aqui?
Só havia em seu olhar, aquela ternura dos apaixonados, e aquela firmeza de quem sabe o que faz.
- Eu disse que estaria com você onde quer que estivesse. Vim buscá-lo.
Abriu um sorriso enquanto eu a via abrir as asas de anjo. Oh, minha Angeline... minha vida e minha paz, cuja alma era tão pura que nem teve de passar pelos horrores do purgatório. Não conseguia desviar os olhos dela. Aquela que agora queria me levar para a luz... junto de si.
Pegou-me pela mão e assim fomos juntos até acima das nuvens, para longe do frio... do fogo. Para a eternidade.
Existem amores que duram até a morte. Outros, porém, vão até além da vida.

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Olhos

Tenho aqueles olhos... de quem já sofreu sessenta anos em meros dezessete. Faço parte daquela parcela de pessoas que já conheceram do mundo somente - ou quase - a pior face.

Sou aquela que na mente tem... trejeitos... suspeitos, e na consciência, algumas atitudes das quais não se deve orgulhar. Olhos, aqueles... Sombras que não os deixam revelar... nada sobre mim. Só, talvez, aquela expressão peculiar que carregam aqueles que já perderam... toda a inocência. Adjetivo, substantivo. Arrependimentos passados. Não vou justificá-los, pois não há meio de fazê-lo sem entrar em contradição.
Faço parte daquela parcela de pessoas a qual a magia não alcança. Daqueles que tem a dor por tão constante companhia, que já nem é surpresa, e sim, certeza.
Uma palavra, um ato. A escolha dos personagens foi quem definiu o meu papel dramático. Melancolia coadjuvante... em mim protagonista. Tudo por causa de uma simples palavra, tão superestimada. Tão dolorida, tão amaldiçoada.
Amor... famoso anti-herói de meu coração.

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Fascínio.



Amor, desligue o ar condicionado;
Deixe-me mostrar o calor de meu contato.
Deixe-se nutrir pelo sabor de meu beijo.
Deixe-se navegar, nesta vasta onda que chamamos Desejo.

Sinta meu toque, sem pressa mas sem demora.
Necessidade de outrora;
E de agora...
Sem medo de perder a hora.

Esqueça o medo, eu não tenho limites se tu não os tiver,
Tenho um navegante coração de amores, se os quiser.
E se não quiseres som, tua boca a minha silencia...
Aproveite a noite amor, amanhã já é dia.

Deixe sua boca trair o seu olhar,
E não subestime meu vigor,
Se o vento da janela substitui o do ar,
A paixão também vira, então, amor.

E não há mal que dure sempre, o sábio já dizia
E poréns aparecem, mas a tua companhia...
Compensa todos, qualquer um.

Amor, carinho, prazer...
Existe contraste que me impeça de te querer?
Não consigo pensar em nenhum.

<3

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Nós Somos a Chave

Hoje em dia, sentar-se na frente da televisão com tamanho interesse em saber como está sendo dirigido o seu país, é raro entre os brasileiros. O brasileiro perdeu o costume de interessar-se pela sua pátria. Aqueles que sobraram e que ainda lutam não o fazem por amor, e sim por uma troca. "Dá-me os cobres e as pratas que te dou o teu sossego."

Essas constatações geram outras; aqueles apesares que me fazem absolver do meu orgulho de ser brasileira. A televisão pinta o Brasil como se fosse o país das maravilhas, para os de fora, mas assim como na história, ele está trancado atrás de uma porta. Nós somos a chave, mas ao invés de abri-la, forçamos erroneamente e não conseguimos entrar.
Esses argumentos me fazem questionar o conceito de nacionalidade. Olhando as notícias, que expõem as tamanhas manifestações de violência entre as comunidades, a depravação inconsequente da natureza, realizada abertamente, eu sinto falta de tempos mais obsoletos; onde o respeito era uma característca marcante. Onde leis eram assunto sério, e as manifestações mostravam a figura de um povo unido, e onde a única violência que existia era verbal e sonora.
O que é nacionalidade? É orgulho. É respeito. É luta e acima de tudo é amor. Amor pelo chão em que se pisa, amor pela província em que se vive. É respeito por ti, por todos, por nós, brasileiros.
E a minha última pergunta é: O que é Democracia? O que esses fantoches de atualmente, que chamamos de cidadãos, que baixam a cabeça á regras falhas e injustas de um governo corrupto, têm de diferença do antigo Feudalismo? A sociedade atual é o Feudalismo reescrito, onde somos todos servos de um Rei cruel chamado Burocracia, e onde somos todos capatazes impiedosos de nós mesmos.

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Desvirtude

Com você aprendi a cometer...

7 pecados.

Ira: Pois todos os fatores que me afastam de ti, despertam a minha cólera, e a contradição me deixa completamente enraivecida.

Gula: Pois minha vontade de teu corpo, de teu cheiro e de tê-lo completamente para mim, é insaciável. Tenho fome, e tenho gula de ti, constantemente.

Inveja: Invejo a tua cama, que todas as noites têm o calor de seu corpo sobre ela, ao invés de mim. Inveja das tuas lágrimas, que vivem nos teus olhos, oscilam por tua face, e acabam nos teus lábios.

Avareza: Sou avarenta quanto a ti, pois te quero só pra mim, e não divido com ninguém. Quero-te pra sempre só ao meu lado, pra viver - e assim morrer.

Preguiça: Sim, tenho preguiça. Preguiça de ter que sair dos teus braços, de ter que me levantar da cama e sair do teu lado. Preguiça de ter de tirar minha boca da tua. Preguiça de viver sem ter de viver apenas pra ti.

Soberba: Pois adoro mostrar que te tenho ao meu lado, e que isso talvez seja a vitória que me faz ser maior. Orgulho, que jamais me deixa mostrar minhas fraquezas, pra que me admire como forte.

E a Luxúria: Pois meu desejo por ti é impossível refrear. Sem medidas, sem limites.
Sem fim. Cobiça eterna, extrema.
Amor, com uma dose de paixão.

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Adam & Érica II

Sentia seu olhar pousado em mim enquanto andávamos. Não tinha certeza se ele havia engolido a minha desculpa, então eu estava me certificando de carregar no rosto a expressão mais inocente que podia. Tinha certeza de que, se ele desconfiasse das minhas intenções, o que havia em meu rosto não o impediria de chegar á conclusão correta, mas o atrasaria de fazer isso. Sem dúvida.

Quando chegamos em nosso destino, olhei rápida e discretamente em volta, procurando sinais da presença de umas certas garotas curiosas. Não havia nada. Não demorei em pedir-lhe o celular, e ele posou pra mim de boa vontade. Tinha de reconhecer que essas fotos ficariam muito boas depois de editadas. O tempo passou sem que eu agisse, pois eu pensei que estaria tranquila. Que prosseguiria sem problemas, e que não hesitaria.

É, se fosse fácil assim.

Pensei em todos os fatores decisivos antes de agir. Adam era um ótimo amigo, era adorável, doce. Belíssimo. Perfeito. O que eu estava esperando? E eu precisava tentar esquecer Andrew...

Tinha de ser logo. Rezei para que minhas pernas parassem de tremer como estavam fazendo naquele momento. Só depois que Adam falou comigo foi que eu percebi que tinha ficado absolutamente parada. Sem ação.

Droga! Estava protelando!

- Érica, está tudo bem?

Eu não conseguia responder!

- Érica? Érica? Desistiu das fotos?

Sim, desisti – pensei. Eu já havia decidido que seria com Adam. Que seria hoje. Mas não quando. Teria de ser agora. Deixei que meu corpo se enchesse da coragem que eu precisava. Respirei fundo duas vezes, de olhos fechados. Somente depois disso, é que olhei seu rosto confuso.

Sim, eu sabia exatamente o que fazer.

- Esqueça as fotos, Adam.

Avancei. Só precisei de dois passos para alcançá-lo. Assim que estava perto o suficiente, não pensei. Apenas deixei que meus lábios tocassem os seus, docemente.

Ele demorou três segundos para entender o que estava acontecendo por causa da surpresa, mas logo que caiu em si, retribuiu o meu beijo com ternura. Adam beijava extremamente bem, um tipo de beijo que se pode chamar de raro. Ou único. Foi estranho admitir, mas nossos lábios moviam e moldava-se em uma sincronia perfeita e deliciosa. Seu hálito era tão bom quanto seu cheiro refrescante. Apoiei minha mão em sua nuca enquanto ele apoiava as suas em minha cintura e puxava-me para si.

Eu não queria parar de beijá-lo. Agora eu via o quanto estava perdendo enquanto ficava hesitando em relação a isso. Ele era tão... aconchegante. Era quase impossível largá-lo. E eu não esperava que fosse assim. Podia afirmar tranquilamente que aquele era o melhor beijo que eu já havia provado na vida. Envolvente. Rápido e lento. Doce e picante. Um equilíbrio encantador e absoluto. Assim como o próprio dono.

Não pude deixar de dar uma olhadela em seu rosto enquanto o beijava. Estava tão sereno. Muito bonito, até de olhos fechados. Seu cabelo negro em contraste com a pele branca era realmente espetacular.

Depois de mais alguns minutos, separamo-nos. Adam sorriu com vigor, ainda sem abrir os olhos. Assim que o fez, falou, a voz levemente alterada:

- Mudou de ideia?

Sorri abertamente.

- Parece que sim.

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Fim

Me chame de fraca.

Você não sabe as dores insuportaveis que senti.

Me chame de sonsa.
Você não sabe o que é ser feliz apenas nas suas lembranças.

Me chame de fria.
Você não sabe o que é encontrar na frieza, uma forma de viver sem morrer de dor.


Me chame de arrogante.
Você não teve de ouvir uma eternidade de críticas injustas. E calado.

Me chame de descrente.
Você não teve de assistir ao declínio de sua vida de camarote. E calado.

Me chame de imoral.
Você não sabe o que é ter todas as suas certezas, seus sonhos, arrancados de você em um só dia.

E me chame de apática. De opaca.
Você não sabe o que é perder o amor da sua vida. Ou ser obrigado a isso.

Se você levar um choque, se quebrar seus ossos, ou queimar todo o seu corpo;

Você ainda não saberá.

Porque não é como se alguém lhe enfiasse um punhal.
É como ser obrigado a enfiar um em você mesmo.

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