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Impulso

- Você vem Jonny?

- Er, não.
- Por quê !?
- Ah, eu vou amanhã tá?
- Amanhã eu vou viajar Jon.
- A vá! Sério?
- É. Não vai vim mesmo?
- Não...
- Novidade...
- Ah, pare com isso Erica!
- PARE VOCÊ! que merda isso!
Desliguei o telefone, minha animosidade dividindo-se em vários pedaços de sentimento. Raiva. Dor. Decepção. Todos em um só. Será que todo o amor que me convencera a ficar com Jonny havia sido parte de sua estratégia? Eu não via sentido nisso. Antes de estarmos juntos ele parecia disposto a tudo para poder me ver, para estar perto de mim, pra me ver feliz. Agora ele sempre tinha uma desculpa para não estar comigo. Sempre punha o trabalho em primeiro lugar, e eu sempre em segundo plano. Isso estava me magoando profundamente. Eu aprendi a amá-lo, embora não fosse aquele amor maluco. Aprendi a conviver com a idéia de que, estando com Jonny, eu podia esquecer a dor de ter perdido Adam. Estava sendo perfeito antes de ele fazer parecer impossível ter tempo pra mim. Eu já estava ficando cansada de nunca estar em primeiro lugar, estar sempre esperando.
Corri pela sala de estar, passei pelo corredor até o meu quarto, onde comecei a desgraçar o mundo, jogar coisas com violência no chão e chorar compulsivamente. Era ridículo, mas eu estava agindo como uma adolescente de 17 anos. Era a primeira vez que eu chorava por alguém depois de Adam. Quando o perdi, pensei que nunca mais amaria, que nunca mais sofreria por ninguém. Eu me flagrava agora, traindo o próprio pensamento, chorando por Jonny. Não estava mais controlando meus sentimentos. Peguei o meu diário antigo, de 6 anos atrás e comecei a folheá-lo. Nele eu havia escrito toda a minha história com Adam, e lendo minhas lembranças senti que mais lágrimas brotavam dos meus olhos. Seis anos haviam se passado e eu ainda sofria por ele e o desejava. Mas isto era algo impossível. Eu havia perdido qualquer tipo de contato com ele depois do que nos aconteceu, e não tinha como procurá-lo.
Na última página, algo fez meu coração pular. Olhei cerca de 15 vezes a mesma folha, conferindo se eu estava realmente vendo o que estava escrito. Sim, eu via, mas minha mente não conseguia processar a informação, tamanha foi a surpresa. Um número de celular. O de Adam.
Tentei encontrar motivos que me fizessem mudar de idéia, mas meu âmbito por discar os números foi maior que meus motivos para não tentar. Tantas vezes eu havia pensado nessa hipótese e não havia como realizá-la... mas agora eu tinha um meio. Será que ele conservara o mesmo número? Deixei que minha ID ficasse oculta e sentia o coração palpitar enquanto começou a chamar. Será que eu devia falar? Não, seria pior...
- Alô ?
Meu mundo girou. Não estava acreditando no que estava ouvindo. Era a inconfundível voz de Adam. A voz de um arcanjo, suave em meu ouvido.
- Alô?? Alô?
Não, eu não iria falar. Iria ficar ouvindo aquelas notas de violino, perfeitas e doces soando em meu ouvido enquanto todas as minhas lembranças de nós dois voltavam para a minha mente. Eu queria ficar ouvindo para sempre, mas resolvi desligar antes que ele desligasse. Eu estava chorando muito mais, mas meus lábios sorriam, um riso dopado. Isso. Eu estava dopada pela consciência de Adam, por lembrar dele como eu não lembrava a tanto tempo.
O tempo não fizera-me esquecê-lo. Porque... aquilo que é verdadeiro... nunca se esquece.

E um dia sempre volta.

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