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Um certo ombro amigo

E se eu não voltar? - Dizia uma Gwen muito nervosa.
- Ah, faça o que você quiser Gwen! Só saia daqui e me deixe sozinho! - vociferei.
Ela saiu e bateu a porta com tanta força que o quadro na parede caiu no chão em dezenas de pedaços.
- Que MERDA! - foi bom ela ter saído, eu estava irado, colérico. Não que eu fosse agredi-la, mas eu precisava de um tempo para me acalmar ou para entender. E para tentar acreditar.
Andei da sala até o quarto e procurei dentro dos armários uma caixa de papelão que eu usava para guardar os nossos vídeos. Quando achei, abri ela sem me importar em rasgá-la, e peguei qualquer um deles para pôr no DVD. Nossos rostos apareceram então, num lindo piquenique de fim de tarde. Não era o rosto da Gwen. Eu deixava as lágrimas jorrarem enquanto na sala vazia eu revivia os momentos e as lembranças que eu tinha de Jane.
Eu soluçava agora e me perguntava o porquê. Perguntava-me também se conseguiria passar por aquilo sozinho. Gwen não seria de muita ajuda agora, uma vez que ela odiava o fato de que eu ainda amava a minha ex-mulher. Peguei o telefone na escrivaninha e disquei o número da pessoa que eu rezava para atender o telefone.
- Alô? - respondeu Ralph com aquela voz de canhão.
- Ralph! É o David! Ah, eu preciso tanto falar com você...
- David! Quanto tempo? Como você está? O que acontec... você está chorando?!
- Venha agora se puder... por favor. - E desliguei o telefone.
20 minutos depois a campainha tocava, com um Ralph preocupado na porta. Abri-a e ele entrou um pouco molhado da chuva. Depois de pendurar o casaco ele veio e deu-me um abraço apertado, onde eu chorei por un bons 5 minutos. Eu agradeço a Deus por ter ele como meu melhor amigo, ele é um homem de percepção, generosidade e me conhece como ninguém.

A faculdade nos tornara irmãos de alma e coração, e agora que eu precisava de apoio, não conseguia pensar em meu antigo colega.
- O que aconteceu Dave? Você está péssimo!
- Eu não consigo acreditar Ralph... não consigo aceitar...
Ainda apoiado no seu ombro, eu pude perceber que ele virara a cabeça para onde estava a televisão. Um instante depois pude ouvi-lo suspirar e soltar um "ah" de compreensão. Pelo menos ele já sabia por quem era minha dor.
- Sente-se Dave, vou pegar uma bebida pra você.
- O.K

Eu me sentei com o rosto nas mãos, porém já não chorava. Meu nariz estava vermelho e provavelmente molhara toda a blusa gola rulê do Ralph - que não demorou-se na cozinha.
- Tome, vai ficar melhor.
- Duvido muito.

Ele me olhava com várias emoções no rosto: compreensão, pena, dor, lealdade... e uma que não consegui compreender. Enquanto eu tomava a água com açúcar que ele me trouxera, ele apalpava caridosamente meu ombro. Ainda bem que eu podia contar com ele. Mesmo que ele estivesse ocupado eu sabia que ele viria... eu sempre soube.
- O que aconteceu Dave? O que aconteceu com ela.
Queria viver mil vidas pra esquecer o que acabara de sair da minha boca.
- Ela morreu.

Ralph ficou paralisado um instante, e depois desnorteado. Agora ele entendera como minha dor podia ser, e era, enormemente grande.

- Vem cá David.

Mais uma vez ele me abraçou, e mais uma vez eu chorei no seu ombro. Agradeci mil vezes por ele estar ali, pra me ver chorar ou para me impedir de fazer uma besteira. Me senti uma criança, como quando sendo acalentada no colo da mãe, que lhe lá segurança e sossego. Agradeci mais vezes por tê-lo pra segurar as pontas quando eu precisei. Eu não sei o que faria sem este ombro amigo, que eu recebia agora.

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Depois de Fechada


Ele estava no meu apartamento, me olhando com a maior cara de bunda que ele conseguiu, esperando a minha reação.
Eu tinha vontade de matá-lo.
- Andye, me escute...
- CALE-SE! - Eu não queria ouvir mais a voz dele.
- Mas, deixe-me explicar...
- Eu já disse PRA SE CALAR!
- Por favor An... Eu amo você.
- CHEGA! Você diz isso pra todo o mundo seu IDIOTA!
Era incrível como ele tinha a cara de pau de continuar na minha frente, de ter ficado na minha casa, de ter feito tantas promessas, tantas coisas que agora eu via que não passavam de mentiras...
- Andye! Não foi nada disso, aquelas cartas eram só uma diversão, você sabe que você é a únic...
- CHEGA KEVIN! Pare de fingir! Não é a primeira vez que isso acontece. Você diz "eu te amo" pra qualquer um que passa na sua frente. Já cansei de fechar os olhos e acreditar nas suas mentiras, de acreditar em todas as histórias e desculpas IDIOTAS que você já me contou. Cansei de acreditar que você falava sério quando disse que eu era a única... Não confio mais em você. Essa foi a gota d'água. Sai daqui. - Eu pranteava tanto que tinha dificuldades em respirar.
- Por favor... acredite em mim. Não vivo sem você...
- Fora.
- Mas...
- AGORA KEVIN! Não quero mais te ver! Eu não mereço isso.

Ele fez menção de falar, mas desistiu depois de ver minha expressão.
Era tão óbvio... as noites em que ele voltava tarde, que ia direto para o quarto, a ansiedade que ficava quando recebia correspondências...
Eu acreditara tanto no meu amor por ele, e sempre acreditara que ele falava sério quando dizia que me queria pro resto da vida. Foi extremamente doloroso descobrir que eu não era a única a quem ele amava. E o mais difícil era que eu o amava completamente. Seria fácil perdoar, fechar os olhos novamente e fingir que nada aconteceu, continuar a nossa vida. Mas esta não seria eu, não mesmo.
Depois de alguns minutos ele saiu do quarto com algumas peças de roupa numa mochila.
- Quando você estiver mais calma eu volto pra nós conversarmos, ok?
- Pode ir Kevin.
Ele tentou dar-me um beijo no rosto mas eu desviei, e com um suspiro ele saiu pela porta.
Quando notei que agora eu estava sozinha, eu me sentei no sofá e com as mãos no rosto eu chorei. Eu chorei por ter sido tão idiota, chorei por ter acreditado tanto tempo numa mentira. Chorei por saber que eu não iria esquecê-lo tão rápido.
Por que o amor machuca tanto?

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