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O Beijo do Vampiro

Eu não aguentava mais aquela sala de aula. Não aguentava mais ficar sentado na cadeira.


- Senhor Hendrick, faça o favor de sentar-se direito?

A Sra Kalley tinha um talento incrível para ser inoportuna.

- Claro, perdoe-me.

Tudo que eu tentava fazer era manter-me inerte, quieto e sentado. Eu estava usando capuz, e deixava minha franja preta e gigantesta cobrir meu rosto - e o esgar animal que ele revelava - e deixá-los apenas á meu conhecimento. Ninguém ali sabia o que eu era, e o pior - ou melhor - ninguém sequer suspeitava. As pessoas daquele lugar não pareciam ter o mínimo instinto de preservação. Qualquer pessoa com o mínimo de senso de perigo sairia correndo para bem longe de mim. Humanos são criaturas muito idiotas, pois são capazes de correr ao encontro do próprio predador. Simplesmente deplorável. A única maneira que eu tinha de apreciar a uma dessas criaturas, era rasgando as veias de seu pescoço e roubando-lhe o sangue. Ou então... guiando-as pelos caminhos da luxúria, utilizando delas para meu usufruto/prazer, e depois saciando a minha fome com elas, ou melhor, minha sede. Naquele dia estava sendo difícil aguentar a vontade, com tantas pessoas em volta, mas eu precisava me controlar... não podia, em hipótese alguma, deixar as massas descobrirem da existência dos vampiros. Manti-me quieto, indiferente.
O tédio estava me consumindo. E a sede também.

Havia uma garota no prédio 5, vizinho ao meu, que se chamava Madison. Ela sentia uma atração imensa por mim, eu podia ver sinais disso com meus sentidos apurados, coisas que só alguém como eu poderia ver. O cheiro que exalava da pele dela, o modo como seus olhos hesitavam ao me ver, a respiração que se acelerava minimamente. Eu podia ver isto. E ficava irritado com isso. Na minha cabeça, eu estava certo de que ela nunca teria coragem de falar comigo, e me surpreendeu tê-la escutado se aproximar de mim. Me virei automaticamente, atônito. Não podia deixar que ela se aproximasse tanto, eu estava em uma crise de limite de força e não podia caçar. Nessas épocas eu era muito, muito perigoso.
- Olá, estranho. - ela ria
- O-oi... tudo bem?
- Aham... e você?
- É. - se eu falasse que eu estava prestes a atacá-la, ela sairia correndo.
- Meu nome é...
- Madison, eu sei.
- Hm, como é seu nome?
- Julián Hendrick
- Prazer, Julián. Vai fazer algo depois da aula?
- Sim, infelismente. Desculpe.
- Ah, sem problema! Vou indo então... até mais!
- Ei, espere! Onde você vai, Madison? Já está escuro... quer companhia?
- Você não está ocupado?
- Não, só mais tarde. Mas já que você vai faltar a aula...
- Bom, então eu aceito. - Rubor, ela estava corando.
- Vamos então.

Será que eu aguentaria andar ao lado dela sem ceder ás necessidades que eu tinha agora? Tinha de tentar estar com alguém sempre que eu estava nessas crises, pra testar a capacidade de autocontrole que ás vezes eu precisava. Fui com ela até o portão dos fundos, que era por onde os alunos saíam quando queriam matar a aula, e saímos da escola. Ninguém via, nenhuma testemunha. Nós ríamos de nossa pequena fuga quando ela simplesmente me agarrou pela cintura enquanto andávamos. Parecíamos namorados andando agora, eu não podia negar que esta garota tinha atitude. Só que essa ação deixou-a em uma situação bem crítica. O cheiro dela veio muito mais intenso, em ondas de carmim que dançavam nas minhas narinas e fazia minha boca encher-se de veneno. Eu não ia aguentar. Eu precisava do seu sangue tanto quanto ela precisava de oxigênio. Pensei numa maneira de convencê-la a ir comigo a um lugar mais deserto. A resposta veio imediatamente.
Fiquei de frente pra ela, ela me olhou confusa com a parada súbita. Eu não era muito alto, então não era difícil chegar ao seu ouvido. Agarrei-a com suavidade pela cintura e colei meu corpo ao seu. Feito isso sussurrei em seu ouvido:
- Até que enfim tivemos a oportunidade de ficar sozinhos... não sabe a quanto tempo eu desejo você em segredo...- Me impressionei como os meus Poderes ajudaram a deixar minha voz irresistível.
- Nem sei o que dizer...
- Não diga nada.
Terminada a frase eu a beijei, e ela retribuiu meu beijo com vontade. Eu só precisava de uma jogada de corpo agora para convencê-la a me seguir para qualquer lugar. Apoiei minhas minhas mãos em seu quadril e a puxei mais para perto. Pude sentir que ela arfava. Isso me deu vontade de rir. Humanos são tão maleáveis que não tem nem graça.
- Por que não vamos a algum lugar mais discreto? - Antes que ela respondesse, deixei que minha língua passasse pelo lóbulo da sua orelha.
- Me leve pra onde você quiser...

Estávamos na lateral de um armazém antigo. O lugar não era sujo, mas era perfeitamente desabitado. Já estávamos na parede. Eu me culpava por estar adiando a hora em que eu a matava, mas é que eu gostava muito de ser teatral. E também gostava muito do que estávamos fazendo neste momento. Enquanto eu me saciava dela, eu deixei que meus labios percorrecem seu pescoço, não romanticamente, mas como um predador que brinca com a presa antes de acabar com ela. Ela estava rindo quanto fez o comentário:
- Nossa, você parece um vampiro! - Ela ria, o tom de brincadeira.

Parei subitamente.

- O quê!? - Ela me pegou de surpresa.
- É, um vampiro, só que ao invés de sangue, querendo sugar o prazer e a inocência de uma moça. Hahaha

Teria de ser agora. Ela não poderia suspeitar. Podia estar sendo paranóia, mas não queria que algum dia ela visse verdade nas próprias palavras. Minhas mãos, apesar de tudo, estavam fortes. Agarrei seu ombro na parede, e o instinto me fez ficar totalmente pronto para caçar. Para matar . O tempo todo fiquei pensando se poderia deixá-la ir, mas depois do que ela falou percebi que não. Depois da decisão, pude sentir novamente o cheiro do seu sangue, muito mais forte por causa do contato e do movimento. O cheiro estava enlouquecedor. Minhas mãos agarraram-na, uma o seu ombro e a outra o pescoço. Pude ver seu rosto confuso e assustado, e o meu rosto sombrio. Eu tinha absoluta certeza de que meus olho estavam carmins, pelo pânico dos seus olhos. Todos os músculos do meu corpo ansiavam-na, meus dentes começaram a apontar.

- Eu sou um vampiro. - Disse simplesmente;

Pude sentir que ela se debatia convulsionamente. Era inútil tentar escapar do meu aperto. Aos poucos seu corpo foi ficando flácido por causa da perda de sangue. Quando vi que não restava nem mais uma gota, eu a soltei. Agora eu podia sentir a onda de Força tomando cada célula minha. Era uma sensação única. Antes de ir embora, dei mais uma olhada no corpo debruçado sobre caixas e sorri.

- Esse é o preço por se apaixonar por vampiros.

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