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Déja-vu

Que dor poética...
   ou dor de poeta? Desespero...
Olhar um papel em branco, vendo-o pedir:
               "preencha-me"...
E nada na mente lhe vem.
As palavras que nesta mente costumam existir
     em tamanha abundância!
             SOMEM!

Ah, eu sinto... todo o amargo, insípido, cortante sabor da desesperança, invadindo NOVAMENTE recanto tão sagrado, que louvei e preservei... e RECONSTRUÍ depois de muitas tempestades.
                                     
                                                                ...MAS RUÍRA! RUÍRA!!

                  Ó, IRA! Ira que invade, abominável... DOR! Esquece-me!
                  retira tua força de cem mil equinos!

                                                                    SAI!!

                  Ó, Coração... rogo novamente tua informação. Por que deixaste Amor invadir-te novamente? Já conheces o estrago que lhe causa...Ó vida em que sentimento tão bom avessa-se para destruí-lo!
                                              Quantas vezes ainda verei-te a prestar luto?

                                               Esfria-te. Componha-te. Esconde-te.

                                               Antes que estejamos a te chorar a morte.
                   

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Um Certo Ombro Amigo - Parte IV - Ralph

   Já haviam se passado vários minutos desde que David começara a usar meu ombro para transbordar seu pranto. Depois desse tempo, alguma calma já havia se instalado nele. Seu rosto estava afundado em eu peito. Eu podia ver que já havia se recomposto um pouco, mas me preocupava que não estivesse muito confortável, afinal, meu músculos eram um pouco rígidos para servir de travesseiro.
   Pobre David... Tantas provas a vida lhe impunha. Era doloroso vê-lo naquele estado. Nada era mais evidente que seu desespero. Que raiva eu sentia por não poder curá-lo daquilo! Se pudesse, trocaria de lugar com ele e aguentaria qualquer dor, se isto fosse tirar dele esta que eu via. Lamentava tanto que não fosse possível dividir com ele todas aquelas dores, todas as vicissitudes e dificuldades. Eu encararia qualquer dor, quer física, quer psicológica, só para ver um sorriso naquele rosto. Não importava se fosse como amigo, ou como Homem.
   Mas naquele momento o único modo de prestar minha solidariedade era como seu melhor amigo.
   Como doeu. Doeu em mim ver aquela dor de Dave. Não havia como vê-lo naquele estado sem também sofrer. Senti minhas lágrimas, discretas, escapando pelo meu rosto, pois seu sofrimento também era o meu. Não reparei que David já secara os olhos e prestava atenção em meu choro. O silêncio que havia se instalado por uns instantes, e que eu não percebera, foi quebrado pela voz preocupada de meu amigo:
   - Ralph? O que houve, você está bem?
   Como pude ser tão descontrolado? David preocupado comigo! Que belo amigo que eu era. Como se não bastasse todos os infortúnios que ele tivera que aguentar naquela noite, ainda tinha que se preocupar comigo!
   Tratei de me controlar imediatamente, com todas as forças que consegui obter, e respondi-lhe:
   - Sim, estou bem. E você?
   - Melhor.
   E  essa já era uma ótima notícia.
   Logo vi Dave recompondo-se. Tirou as mãos do rosto, onde antes estavam contendo o choro, e as deixou penderem.
   Mas eu podia sentir que alguma coisa estava errada.
   De repente, em tom de desculpas, ele falou:
   - Desculpe, amigo. Você deve ter os seus problemas também, e a única coisa que eu consigo fazer é me preocupar com os meus próprios.
   Não acreditei que estava vendo Dave apresentar aquele desprezo por si mesmo.
   Respondi, indignado:
   - Não David! Jamais pense assim.
   - Mas sempre foi assim. Eu sempre fui o bebê chorão e você sempre ficou ao meu lado, me protegendo. E o que eu fiz, por você?
   Nasceu, por exemplo.
   Não acreditava que estivesse falando tamanhos absurdos. Todas as vezes que ele tinha precisado de mim... Fora amizade! Cumplicidade... Por amor. Não conseguia vê-lo falando de si mesmo daquele modo, como se sempre houvesse sido um peso pra mim. David sempre fora tudo pra mim, mesmo antes de eu conhecer a mim mesmo realmente, e perceber o que acontecia. Simplesmente fiquei sem saber o que dizer.
   - Isso que você está dizendo é uma loucura, Dave.
   - Verdade? Então me diga algo que eu tenha feito de bom, além de compensar todas as minhas frustrações jogando-as em cima de você. É um modo meio estranho de agradecer.
   Tantas coisas que fizera de bom e nem fazia ideia. Se ao menos eu pudesse dizê-las todas... Mas não podia. Mas minha vontade disso parecia crescer. Vontade de dizer que comigo ele não sofreria jamais. Senti-me profundamente sozinho naquele momento. Tantos sentimentos guardados, trancados... Tantos impulsos incontroláveis que passavam pela minha cabeça naquele momento...
   - Ah, David... Se você soubesse...
   Tentei cobrir os olhos com a franja para disfarçar meu desespero. Esperava que não estivesse visível.
   De repente, David perguntou:
   - Ralph... é sério, você está bem? Por favor... se você estiver passando por algum problema, me diga. Deixe-me lhe ajudar com o que quer que for, para que eu pelo menos possa uma vez na minha vida fazer a minha parte e lhe agradecer de alguma forma. Ver se pelo menos eu deixo de ser tão egoís...
   Cortei a sua frase... Com um beijo. Não pude reprimir-me. Vê-lo falando daquela forma fez ruir o meu autocontrole. Não sabia o que podia acontecer depois. Era normal para mim, mas não para ele. Eu não tinha os cabelos loiros e compridos da Gwen, nem suas curvas, muitos menos o seu jeito feminino, e nem queria ter. Não era esse tipo de homem. Não podia oferecer essas coisas à Dave, mas podia oferecer meu sentimento, que era o que realmente importava.
   Havia saltado de meu assento para tomar seu rosto nas mãos. Vi-o surpreender-se com a minha atitude, mas eu não estava em condições de raciocinar direito sobre o que estava fazendo. Deixei minha boca moldar-se na sua.
   Aquela boca, aquele beijo! Eu já havia imaginado o momento algumas várias vezes ao longo da minha convivência com David, mas sempre havia reprimido com toda a minha força de vontade o impulso ao qual cedia agora. Podia senti-lo paralisado. Uma reação não muito anormal. Eu já esperava por algo assim vindo dele.
   David foi afastando-se de mim, sem alarme, e observou-me, perplexo.
   - O que foi isso, Ralph?
   Minhas palavras saíram num rompante, incapaz que fui de contê-las:
   - É isso que eu sou, David! Se você quer saber o que me deu, eu digo. Foi com você que eu aprendi o que é amar. Deus, devo estar ridículo falando isso... Você vai me evitar, não vai mais manter grande contato comigo, e talvez até nem fale de mim na frente das pessoas. Mas mesmo que eu te perca, Dave, não posso morrer sem antes dizer que amo você. Mais do que como meu melhor amigo. Como eu desejei dizer que você não precisava mais sofrer, que podia ser feliz com alguém... comigo. Faz anos que eu luto contra esse sentimento, mas hoje eu cheguei ao meu limite.
   Aquela reação dele... David nada disse. Eu já imaginava o que poderia ver no rosto dele no dia em que eu revelasse tudo aquilo, mas me descobri incapaz de suportar encontrar em seu rosto a decepção, surpresa, talvez até repulsa. Eu não ficaria ali para ver aquilo acontecer. Reuni o pouco de dignidade que me restou, levantei-me e fui correndo em direção à porta. Mas pelo visto minha cabeça tinha outras ideias, pois no momento em que o fiz, vi-me tomado por uma forte vertigem, que acabou por me fazer cambalear, antes de perder as forças e tombar ao chão. Deve ter sido efeito da intensa carga emocional.
   Por alguns instantes, fiquei em total falta de percepção de meus sentidos. Tive a impressão de que estivesse sendo carregado, mas não pude afirmar realmente. Somente alguns segundos depois é que fui voltando a mim mesmo. Senti a maciez de uma cama. Senti alguém levantando com suavidade minha cabeça e ajudando-me a engolir um pequeno objeto sólido. Provavelmente um comprimido. Meus sentidos foram se recuperando aos poucos.
   Então vi David novamente. Mesmo que estivesse sentindo o efeito do calmante apoderando-se de mim, fazendo com que meu corpo inteiro entrasse em relaxamento, não pude evitar de afagar-lhe o rosto. Sentia uma esperança tão grande... e nem sabia do quê, especificamente. Mas era uma esperança que parecia ter mais peso do que a minha própria vida. Senti voltar aquele sentimento que tinha por Dave, tão forte e constante quanto estava quando cheguei ao seu apartamento. Em seu rosto havia uma expressão que se parecia muito com compreensão, mas novamente não pude ter certeza disso em razão do efeito do remédio.
   David aproximou seu rosto do meu mais uma vez, e beijei-o novamente. Não sabia por qual motivo ele o fizera, mas não estava em condições de pensar.
   Senti meu corpo relaxar vagarosamente.
   David ficaria ao meu lado, pelo menos até que eu acordasse.
   Tudo estava bem, por ora.

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Descrição

 Belo meu, que aqui descansa
 Essas faces cor das rosas
 Quais carmins, de tão formosas!
 De ondas vivas me balança.

 Deita o rosto no ombro meu,
 Com tal âmbito deixado,
 Pra que o rosto tão amado
 Sinta qual nuvem no céu.


 E os olhos, tal de luar
 Brilham com tamanho afinco
 E beleza... que lhos sinto
 Desse amor me fatigar!

 Posso mesmo acreditar
 Que esses teus olhos, tão teus..
 Com tanto louvor amados
 E tal destreza formados,
 Também são olhos tão meus?
   
                                                                                                                       Vanessa Coelho Puchalski

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