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Amor de primavera

- O que houve Lisa? Por que está me olhando assim?

- Nada não... é que eu gosto do seu sorriso.

Estávamos mais uma vez nas nossas caminhadas de meio de tarde no jardim da casa dele. Era enorme. E lindo. As cercas vivas eram baixinhas e formavam um caminho verde e amarelo que eu admirava. Quando eu era pequena, meu pai não me deixava andar por aquele jardim porque temia que eu me perdesse. Talvez fosse verdade, eu não aguentaria ficar parada, quando era possível ver dali, um campo tão imenso de flores, banhadas de sol, o ar com cheiro de néctar... coisas que haviam mais ao longe da casa. Conforme o tempo foi passando, eu fui me tornando mais sociável. Eu era muito tímida quando criança. Passei a ter mais coragem de falar com as pessoas, e acabei conhecendo Daniel. Agora estávamos os dois quase na mesma idade, eu tinha 17 e ele 18. Na pré-adolescência, nos tornamos amigos inseparáveis. Tudo facilitava essa amizade, já que a minha mãe trabalhava na casa dele, e a nossa casa ficava no mesmo quintal. Eu e Daniel nos conhecemos na piscina, quando eu finalmente resolvera ir falar com o filho do chefe, e ele me recebera com afeto.
Toda a família era assim, o patrão era gentil e o filho um garoto adorável. Perfeito.
Por vários anos eue Daniel fomos como irmãos. No começo da minha adolescência foi que eu comecei a perceber algo a mais entre nós dois. No princípio imaginei que eu tivesse imaginando tudo isso por causa da nossa proximidade, mas descobri logo depois que era uma paixão, não de amiga, mas de garota. E eu nunca tive coragem de falar isso pra ele ou perguntá-lo se sentia o mesmo. Mas a nossa relação limitada a amizade não me incomodava, estar perto dele era o suficiente. Mas o tempo foi passando, e a vontade de dar-lhe um beijo foi tomando proporções assustadoras. Ás vezes - quase sempre- eu me pegava olhando-o apaixonadamente, e provavelmente com uma expressão ridícula no rosto.

Naquela tarde eu sentira que alguma coisa iria acontecer.
Bem, nós estávamos andando pelo jardim, passamos pelo labirinto de cercas vivas e nos deparamos com o banquinho do lado oeste da casa, um espaço aberto, porém rodeado de flores, e contendo dois velhos carvalhos que completavam a paisagem. O sol batia em todo o pátio. Ilimitado, insaciável, e tudo que pudemos fazer foi perceber nossos olhos brilhando e sentar no banco. A pouca distância entre nós dois me foi tão maravilhosa, que me senti aquecida e protegida. Olhando o céu, deitei a cabeça no ombro dele e o fiquei olhando encantada.

- O que houve Lisa? Por que está me olhando assim?
- Nada não... é que eu gosto do seu sorriso.
- Obrigada, eu também gosto dos seus olhos, são lindos.
- Obrigada.

Sim, meus olhos azuis eram bonitos, mas nada se comparava ao sorriso de Daniel. Abria-se para todos os cantos e iluminava qualquer coração. Os seus cabelos eram semicompridos, loiros e encaracolados. O meu anjo particular. Os olhos eram grandes e verdes como a relva.

Aquela era a hora.

- Daniel, preciso te dizer uma coisa, mas não sei por onde começar...
- Que tal pelo começo? Seu riso deixou o clima mais leve.

Não pude deixar de sorrir junto á ele.

- Bem, não sei se você já percebeu... mas eu acho que...
- Que?
- Que... eu gosto de você...
- Ah! Mas eu também gosto de você! - Disse isso e afagou meu cabelo.
- Sim... mas não foi isso que eu quis dizer... - Ele parecia confuso agora.
- Não? O que quis dizer então? - Ele nunca parava de sorrir.
- Eu quis dizer que estou... apaixonada por você Daniel.

Ele não disse nada de pronto, mas o fato que me deixou confusa foi que eu via seu rosto iluminar-se mais do que eu achava capaz, mais do que qualquer outra vez que se iluminara, e de repente abraçou-me tão afetuosamente que não consegui reprimir um suspiro. Fechei os olhos. Estávamos tão perto agora, um movimento que eu fizesse com a cabeça alcançaria seus lábios, mas lhe dei tempo. Um minuto mais tarde ele disse:
- Por que demorou tanto tempo pra me dizer?
- Como assim?
- Olhe Lisa... mas eu não estou apaixonado por você.
- Ah... eu...
- Eu amo você. É muito mais do que paixão.

Gelei.
Realmente não esperava ouvir isso. Pude sentir as lágrimas que caíam dos meus olhos, lágrimas de felicidade. Suas mãos que estavam no meu cabelo passaram para o meu rosto, e o vi aproximar-se e lentamente fechar os olhos. Fechei os meus também. Seus lábios tocaram os meus suavemente, e eu aproveitei o máximo daquilo com que sonhei tanto tempo. Agora que o meu medo e a minha covardia de dizer tudo para ele acabaram e eu o tinha nos braços, eu só queria ficar o quanto de tempo eu pudesse beijando Daniel entre os carvalhos.

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Reviver

Lembra do nosso primeiro beijo?

Eu lembro dele todos os dias antes de dormir.
Lembro da sua surpresa, do quanto você gostou.
E isso me faz rir.

Lembra da primeira vez que eu disse "eu te amo"?
Eu não estava brincando. Falei quando percebi que era você que fazia com que meus dias não fossem nublados.

Lembra do quanto você ficou feliz?
Eu daria uma vida pra reviver esse momento.

Lembra do dia que eu cantei para você?
Estar sentada, abraçada contigo foi o momento mais mágico da minha vida. E que eu nunca vou esquecer.

Lembra de quando eu aceitei ser a sua namorada?
Acho que foi a melhor escolha que eu já fiz na vida.

E naquele tempo nós não nos importávamos com quem gostava de nós ou não. Nós tínhamos um ao outro, e isso era o suficiente.
E talvez a distância não nos separe.
Porque eu vou guardar essas lembranças no meu coração para sempre.

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Uma Carta - Rumo ao desencanto


Para Larry Keathewick, de sua querida amiga:

"E se de repente você descobre que a sua maior verdade foi uma mentira?

Eram oito da noite quando eu olhava a tela do computador embaçada por causa das lágrimas. Tentei encontrar as razões que me fizeram entrar no seu álbum de fotos e achar aquela que fez meu mundo terminar. Eu tentava entender agora o porquê, já que as nossas fotos ainda estavam ali. Eu tentava chorar em silêncio mas não conseguia, o pranto era alto e grande como a minha decepção.

Era mesmo difícil de entender. Tantas coisas evindenciaram o quão era tudo verdadeiro, e ao mesmo tempo o mundo mostrava que não era. No que eu podia acreditar? Se meu amor era forte demais e mantia meus olhos cegos... o que eu podia fazer? Mas estes mesmos olhos acabaram se abrindo depois disso. Eu sabia, eu havia sido avisada que seria assim. Mas eu não conseguia odiá-lo, não conseguia desprezá-lo por ter-me mentido tanto tempo. Não conseguia vê-lo como alguém infiel e traiçoeiro. O que eu mais sentia era raiva de mim mesma, e isto pode parecer estranho. Raiva de mim mesma, por não conseguir, por não ser capaz de monopolizar-lhe o amor. Como se a culpada por sua traição fosse ninguém menos do que eu.

Minha psicóloga, que era minha salvação, me dissera que eu tenho uma estranha mania de me auto-criticar. Talvez ela tenha razão. Não consigo acreditar que tudo não passou de ilusão. E se foi mesmo? O que vai acontecer com tudo de lindo e maravilhoso que eu já senti por ele? Está fora de cogitação esquecer. Seria esta mais uma maneira de auto-flagelo? Manter a dor constante para fazer-se lembrar da felicidade passada? E que sentido tinha viver disto? Podia sentir o antigo spleen renascendo. Viver do passado e fazer dele o seu presente.


Palavras giravam insistentemente na minha cabeça naquela noite, contra a minha vontade. fraca, incapaz, cega. eE também aquelas frases desconcertantes como "ele deixou você, ele trocou você." Mas nada disso faz muito sentido.
Não é justo.
Como vive um ser humano que, cada vez que se apaixona leva uma punhalada pelas costas?
Eu queria poder controlar esse meu coração... obrigá-lo a nunca mais se apaixonar, ou destruí-lo. Por que é tão difícil aceitar essa separação? Talvez porque só agora eu encarei deste jeito... agora que aquela esperança de "um dia" está fraca.
Este é o problema, está fraca.
Mas não está morta.

Obrigada querido amigo... por ler estas palavras, não consegui pensar em mais ninguém para confiar tal desabafo.
Mande notícias. Um beijo,

Erica Sander's."

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