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"Cheirinho de Pitanga" - Memórias de uma vida

"Lembro-me que nasci na cidade de Itaara e que lá eu morava com meus pais e mais cinco irmãos. Lembro-me bem que meus pais tinham uma fazenda, bem no interior da cidade. Era bonita, seus campos abriam-se tomados de flores e animais que ficavam em um cercadinho ali perto. Eu, e meus irmãos ajudávamos nas tarefas de boa vontade, era tão bom morar ali! Mas lembro-me também, que este meu cantinho maravilhoso, me fora tomado por consequência do alcolismo de meu pai.
Meu pai costumava beber muito, virava noites nos bares e apostava cada parte de nossas terras em jogos de azar. E sempore perdia. Pouco a pouco, fomos perdendo tudo o que tínhamos, até um dia perder toda a fazenda, nosso teto, nosso chão. Por um tempo, vagamos pelas ruas, dormimos embaixo de viadutos e em praças.
Com quatro anos de idade recém completados, meus pais mandaram-me para meus padrinhos, para que eles pudessem dar-me de comer e beber, uma educação digna e princípios básicos. Coisas que meu pai e mãe não podiam fazer na situação em que se encontravam. Junto com eles, eu trabalhava bastante, e não estudava. Embora meus padrinhos tivessem em melhor situação que meus pais, ainda sim não podiam conceder-me educação como de uma escola, mas o que eles sabiam, me passaram. Aprendi, então a ler e escrever em casa.
Mesmo minha infância sendo praticamente composta pelo meu trabalho e pouco tempo para brincar, eu lembro dela como doce, o doce cheiro das pitangueiras que haviam nas esquinas de casa. O tempo de diversão era pouco, mas sempre havia um espaço no meu dia, em que eu me juntava com algumas amigas para subir as árvores de pitanga e comê-las, tão doces, que me faziam esperar o dia todo. A quele aroma de fruta fresca, da fruta colhida direto do pé, me fazia esquecer qualquer trabalho. Trabalhar não me era visto como algo que eu não gostasse de fazer. Eu pensava nele como uma compensação, pois quando eu chegava em casa havia comida na mesa, e uma cama para que eu pudesse dormir.
Quase todos os momentos de diversão de que recordo, eu passei em cima daqueles pés de pitanga. Serviam de esconderijo na hora do esconde-esconde, serviam de apoio para mim e minhas amigas pudéssemos por nossas bruxinhas de pano que nós mesmos fazíamos. Minhas amigas e eu, aos poucos fomos crescendo e, inevitavelmente, cada uma seguiu seu caminho. Eu me casei e tive dois filhos lindos, que ensino hoje a sempre apreciar as coisas simples da vida, assim como eu apreciei as pitangas, que marcaram e fizeram com que eu tivesse uma infância feliz. Difícil, sim, mas inesquecível."

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2 comentários:

Lucas Alsil disse...

Oii mocinhaa, adorei seu blog =D

se der passe no meu, obgs !!

beiijos,.

Renan Sparrow disse...

o termo felicidade é algo que varia.
Um cachorro não se importa com os preços, dê a ele uma garrafa de refrigerante vazia e ele se divertirá tanto quanto com aquela bola hiper cara da pet shop.
Pra é uma infancia de uma criança que nã oteve oportunidade de comparar a sua própria infancia as de outras.
Talvez ela tivesse uma nova opnião de felicidade.

www.renansparrow.blogspot.com

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