Novamente encontrava-se à janela. O murmúrio do vento contava-lhe segredos e histórias do lugar onde vivera tanto tempo. Só a noite, porém, insistia em pregar-lhe as peças das quais tentava escapar com frequência. E o vento? Ah, o vento! Junto ao farfalhar das folhas soprava com decoro. Tal qual... os passos de um certo cavalheiro, que seu coração soava como dança, música... uma cadência de palavras e poesias que só cessava no ruído dos lençóis e nas juras de amor. Tão suave quanto o nascer da aurora. Tão sutil quanto o toque da seda. Tão forte quanto as batidas de seu coração lhe pareciam.
Mas havia tempestade.
A noite não vinha sozinha. Bastava-lhe que o sol virasse as costas para que a neblina e o manto negro de nuvens profanassem o antigo brilho com seus trovões.
Ah, as lembranças.
E então o espectro de suas lembranças lançavam em sua mente as mesmas sombras que havia ao seu redor.
Negros como o luto e ardentes como o fogo eram os cabelos e os olhos do segundo cavalheiro que se apresentou em sua alcova. Mais arrepios que o frio invernal causava-lhe sua presença, e assim permanecia ao sentir seu corpo enconstá-la à parda parede. O vento entra na sala e corta o fio da palavra. Só o toque dos lábios rudes permanecem em seu pescoço, e únicos em sua mente. E assim como no exterior, seu corpo vira em tempestade.
Eis que luz e escuridão encontram-se e anulam-se. Ao fim do dia, ambas a servem, nenhuma lhe pertence. Ao cair da noite não resta nem luz, nem sombra. Apenas o lusco-fusco desesperado de seu coração.
Enquanto sente que a sombra eo fogo lhe consomem, seu assolado peito clama pela luz. Sua débil voz tenta fugir do abismo:
- Acho... que deveis ir... agora.
- Tu me desejas... - foi a resposta.
E assim sente-se começar a naufragar no delicioso oceano de breu.
- Sim... mas já deveis... ir embora.
O cavalheiro deixou-lhe nas mãos uma rosa vermelha. E partiu.
Iluminou a casa. Onde houvesse sombra estaria a tempestade. Onde houvesse brilho, a sua esperança.
Mas no fim da noite nada lhe restava.
Enquanto o dia não surgisse, só restava-lhe a rosa, que em sua plácida mão, sangrava-lhe tanto quanto o terno coração.
O cavalheiro deixou-lhe uma rosa branca. E partiu.
Vanessa Puchalski
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